Líder dos agricultores urbanos da Horta Comunitária Santa Rita IV, no Tatuquara, Lenita Ferreira Bueno, 55 anos, acorda cedo diariamente para conferir como estão os canteiros repletos de hortaliças cultivadas pelos 88 produtores do local que têm apoio da Prefeitura.

Desde a semana passada, no entanto, ela também tem outra missão: conferir se quatro charmosas “casinhas” estão bem vedadas e seus “moradores” estão circulando livremente entre pés de alface, couve, brócolis, manjericão e outros alimentos in natura produzidos no espaço.

Uma parceria entre as secretarias municipais de Agricultura e Abastecimento (Smab) e do Meio Ambiente (SMMA) possibilitou levar, este mês, o projeto Jardins de Mel para duas hortas comunitárias de Curitiba: a Santa Rita IV e a Rio Bonito, esta última no Campo do Santana.

Criado no ano passado pela Prefeitura, o projeto Jardins de Mel está espalhando caixas de colmeias por vários pontos da cidade, como parques, praças e zoológico. O objetivo é tornar a população mais consciente sobre a importância das abelhas para o equilíbrio da biodiversidade do planeta. Mas, no caso das hortas, esses insetos também ajudam, por meio da polinização, a aumentar a qualidade e a produção das hortaliças plantadas pelos agricultores urbanos.

“Os insetos polinizadores e, em especial, as abelhas são de vital importância para a agricultura e os ecossistemas. Sem elas, não se poderia manter a vida vegetal na terra, já que para a reprodução das plantas é necessária a propagação do pólen”, explica Maria Imaculada de Abreu Duarte Bernardes, chefe da Unidade de Agricultura Urbana da Smab.

Além disso, segundo a especialista, mesmo para as culturas que se polinizam de forma autônoma, as abelhas são benéficas porque aumentam a produtividade e a qualidade.

Sem ferrão
Nas hortas comunitárias de Curitiba, três espécies de abelhas nativas sem ferrão – Jataí, Mirim e Mandaçaia – estão sendo criadas nos chamados “meliponários” (espaços com colmeias).

Na Santa Rita IV, são quatro caixas e, na Rio Bonito, seis “casinhas”, que foram instaladas estrategicamente junto a muros e sob árvores, que as protejam de variações climáticas.

“Tudo é pensado para manter a integridade das caixas e para que a colmeia fique livre do frio do vento ou do calor de sol, que obrigariam as abelhas a gastarem mais energia para manter a temperatura interna da caixinha. Essa energia, na realidade, elas precisam usar para se locomoverem até a fonte de alimento: as plantas que forneçam pólen e néctar durante a maior parte do ano”, justifica Maria Imaculada.

Capacitação
Nas duas últimas semanas, agricultores urbanos da Santa Rita IV e da Rio Bonito receberam capacitação ministrada pelo agroecólogo da SMMA, Felipe Thiago de Jesus, responsável pela implantação dos Jardins de Mel em oito espaços públicos do município.

“Além de terem um papel fundamental como multiplicadores da prática e da importância a perpetuação das espécies, alguns agricultores das hortas ficarão responsáveis por fazer o manejo (manutenção) das caixas de abelhas, verificando se estão bem vedadas; e se não há invasão de formigas, forideos, aranhas ou outros inimigos naturais, que poderiam prejudicar as colmeias”, conta Felipe.

Segundo o especialista, os produtores vão aprender a como fazer a retirada dos subprodutos como própolis pólen  e mel produzido pelos insetos.

Prazer em dobro
Para o mecânico Eliel Miranda, 48 anos, que produz hortaliças há cincos anos na Santa Rita IV, participar da capacitação está sendo um duplo prazer. “Além de ajudar a cuidar das abelhas, eu também estou me sentindo voltando no tempo, quando morava em Palmital (norte do Paraná) e ajudava meus pais no sítio. Lá, a gente tinha contato com essas abelhas e a gente sabia da importância delas para a lavoura”, recorda ele.

A aposentada Lucélia Marinho, 62 anos, que cultiva há dois anos verduras e legumes na horta do Rio Bonito, reconhece que antes de passar pelas primeiras capacitações tinha muito medo de qualquer abelha.

“Com o moço, o Felipe, eu aprendi que as abelhas sem ferrão são inofensivas. Até em casa eu posso ter uma caixinha com elas para ajudar a deixar meu jardim mais bonito e estou pensando mesmo em ter um canteirinho com verduras lá no meu quintal”, revela a integrante da horta comunitária, que reúne um total de 100 agricultores urbanos.

Além disso, Lucélia promete por em prática, em breve, o papel de multiplicador. “Minha irmã mora em Morretes, no litoral, e vou ensinar a importância de ter estas colmeias na horta do sítio dela”, garante.

Fonte: PMC