A intensificação dos cuidados às gestantes soropositivas em Curitiba nos últimos quatro anos, por meio das ações do Programa Mãe Curitibana/Rede Cegonha articulados com toda a rede de saúde, refletiu diretamente na redução da taxa de infecção de bebês recém-nascidos portadores do vírus HIV. A taxa de infecção caiu de 4,8 em 2012 para 1,3 em 2015. Na prática, os números mostram que a transmissão vertical – transmissão de uma infecção ou doença da mãe para o bebê ainda no útero ou recém-nascido durante o parto – do HIV em Curitiba foi a menor da última década, com o registro de apenas dois bebês soropositivos desde 2013.

A taxa de infecção é uma fórmula matemática que leva em consideração o número de gestantes com HIV, de crianças nascidas em Curitiba e de bebês infectados. O coordenador do Programa Mãe Curitibana/Rede Cegonha, Wagner Barbosa Dias, explica que toda gestante em Curitiba deve fazer pelo menos dois exames de HIV e sífilis durante a gestação. Segundo ele, esse cuidado é uma forma de prevenção, já que há mulheres que são soropositivas e desconhecem essa situação. “Por ano, temos registrado uma média de 90 grávidas soropositivas. O problema é que boa parte delas não sabia disso e toma conhecimento somente durante o pré-natal”, comenta o médico.

Os testes para diagnosticar o HIV devem ser solicitados ainda na primeira consulta do pré-natal, no primeiro trimestre da gravidez, e depois no início do terceiro trimestre, por volta da 28.ª semana de gestação. Em caso de resultado positivo, em Curitiba, a paciente do SUS é encaminhada para acompanhamento pré-natal em hospital de referência para atendimento à gestante de alto risco, caso do Hospital de Clínicas e do Evangélico. “Ela continua fazendo os pré-natais na unidade básica de saúde de sua referência. Mas também fará acompanhamento com médico infectologista desses hospitais, para monitorar a carga viral e as condições de saúde”, salienta Dias. Segundo ele, as gestantes acompanhadas pelo Programa Mãe Curitibana/Rede Cegonha fazem os exames de HIV e sífilis inclusive no momento do parto, na própria maternidade, por meio do teste rápido.

Segurança na gestação

“A mulher soropositiva pode ter uma gravidez tranquila e segura, com baixo risco de infecção para o bebê, desde que faça o acompanhamento médico adequado e siga as orientações clínicas”, explica. De acordo com informações do Ministério da Saúde, a taxa de transmissão do HIV de mãe para filho durante a gravidez, sem qualquer tratamento, pode ser de 20%. Mas em situações em que a grávida segue todas as recomendações médicas, a possibilidade de infecção do bebê reduz para níveis menores que 1%.

As gestantes que souberem da infecção durante o pré-natal têm indicação de tratamento com os medicamentos antirretrovirais durante a gestação e ainda no trabalho de parto para prevenir a transmissão. O recém-nascido também deve receber o medicamento antirretroviral por quatro semanas e ser acompanhado no serviço de saúde.

Wagner fala que o tipo de parto mais indicado para evitar a infecção do bebê pelo HIV vai depender, principalmente, do estado de saúde da mãe. “Como o vírus também é transmitido pelo leite materno, nesses casos a mãe é desaconselhada a amamentar”, orienta.

Entre os parceiros, o risco de transmissão durante a relação sexual está diretamente ligado à carga viral da pessoa soropositiva. Pacientes soropositivos em tratamento e com carga viral indectetável, o risco de transmissão do HIV é muito reduzido, segundo estudos internacionais. “É importante que cada caso seja acompanhado e orientado pela equipe de saúde, porque não se pode descartar o risco de contaminação por outras doenças sexualmente transmissíveis e que estão ocorrendo com maior frequência entre a população, como é o caso da sífilis”, salienta o secretário municipal da Saúde, César Monte Serrat Titton.

A dona de casa Carla (nome fictício), 33 anos, é soropositiva desde 2003 e mãe de duas crianças, uma menina de 2 anos e um bebê de 3 meses, ambos sem o vírus HIV. Carla relata que desde que conheceu seu marido, há cerca de quatro anos, deixou clara a sua condição de saúde. E, mesmo contando com a parceria dele, a primeira gestação foi cercada de muita preocupação, até porque o médico a desaconselhava engravidar. Na época, ela contava com plano de saúde e fez todo o acompanhamento na rede particular. Apenas os medicamentos antirretrovirais eram retirados pelo SUS.

Com o sucesso da primeira gestação, o casal resolveu aumentar a família. Desta vez, todo o acompanhamento foi feito pelo SUS, com os profissionais do Hospital de Clínicas e da unidade básica de saúde. “Eu não sabia como seria o atendimento no SUS, tinha até um pouco de medo. Mas hoje posso afirmar que fui muito bem acompanhada. Meus filhos estão bem, são saudáveis, e eu levo uma vida normal. Só não pude amamenta-los”, relata Carla.
Fonte: PMC