Viaduto Estaiado foi construído na Avenida das Torres e é uma das principais obras para a Copa do Mundo na capital paranaense (Foto: Rubens Vandresen / RPC TV)

Embora deva ser objeto de revisão apenas no ano que vem, junto com os planos setoriais, a Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo aparece com frequência nas discussões do Plano Diretor de Curitiba. Mencionado quase 20 vezes pela população nas audiências públicas nas regionais, o tema ocupa posição importante também nas propostas do setor imobiliário. E nesse ponto começam as divergências.

O adensamento de bairros como Mercês, que já contaria com infraestrutura de trânsito e serviços, é apontado como uma alternativa para melhorar, inclusive, a mobilidade – preocupação número um do curitibano nas audiências de revisão do plano.

O presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi/PR), Gustavo Selig, avalia que a legislação atual está defasada em relação às constantes mudanças do espaço urbano. “A cidade é um organismo vivo, há aumento de tráfego e necessidade de adensar algumas áreas. Ano a ano, a gente vê mudanças, daí a importância de uma maior constância nas revisões, não só a cada dez anos, como prevê o Estatuto da Cidade.” Entre os pedidos da entidade à prefeitura está o adensamento de alguns bairros, como Mercês, Portão, Seminário, Santa Quitéria e Água Verde.

Com a mudança desses locais de Zona Residencial 3 (ZR3) para Zona Residencial 4 (ZR4) seria possível construir prédios de oito pavimentos e não apenas de quatro. “Gosto de citar o Mercês, porque tem o Batel do lado, o Champagnat, está perto da Praça 29 de Março e junto ao Centro. Em toda essa região, pode-se fazer prédio de oito pavimentos, mas, ali, em um raio de cinco ou seis quadras, só pode construir residências, não faz sentido”, argumenta Selig. “As pessoas acabam pensando no próprio umbigo. Quem não concorda é quem tem uma casa no meio do Mercês.”

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-PR), José Eugenio Gizzi, afirma que ainda não houve oportunidade de discutir propostas com o Ippuc – mesma queixa da Ademi/PR. “Acreditamos num melhor aproveitamento dos lotes, que pode proporcionar a vantagem de trabalhar e fazer todas as atividades perto de casa. Em três dias de greve de ônibus, vimos como ficaria o trânsito da cidade. É preciso viabilizar investimentos e um transporte coletivo que seja mais vantajoso do que sair de carro.”

O coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, Paulo Chiesa, explica que Curitiba adotou um modelo de verticalização em torno dos eixos estruturais, com um decréscimo da altura dos edifícios em direção aos bairros. “A polinucleação não aconteceu, ainda há uma centralidade.” Embora o adensamento seja garantia de altos lucros, Chiesa vê mérito da proposta, que traria qualidade de vida. “Viver, trabalhar e ter serviços na mesma região é uma coisa que já vem se falando há tempos e, do ponto de vista ambiental e energético, cada vez mais. Mas é preciso estudo. Temos visto propostas extremamente frágeis, com líderes, até vereadores, que só defendem o seu quintal.”

Contradições
Para quem vive tranquilamente em um bairro e, de repente, vê um prédio sendo construído ao lado de casa, o adensamento não é vantajoso. “Para o morador tradicional, retira o sol, a privacidade, aumenta o tráfego, torna a rua mais perigosa”, avalia Paulo Chiesa. Na audiência pública de revisão do Plano Diretor da Regional da Matriz, em junho, a mudança de zoneamento do Jardim Botânico foi um tema que dividiu opiniões.

“São contradições locais. Há os que gostariam que ficasse como está e os que gostariam que mudasse. As pessoas de Santa Felicidade querem pacatez, as do Boqueirão e eixo Marechal querem um tratamento semelhante às estruturais. Como lidar com isso? É uma coisa nova”, defende Sérgio Póvoa Pires, presidente do Ippuc.

A proposta de adensamento não foi tema de discussão nas reuniões da Associação de Moradores e Empresários das Mercês e Vista Alegre (Amoem), segundo o presidente da entidade, Antonio Carlos Carvalho. “Não estava sabendo, mas com essa informação, acho proveitoso. Temos áreas ociosas no local, com metro quadrado caro, que inviabiliza casas térreas, além de casas antigas em que as pessoas não investem para melhorar. Seria uma mudança que valorizaria todos os terrenos”, avalia.

Impacto positivo
Carvalho acrescenta que a região tem uma infraestrutura boa, mas acaba atraindo apenas pequenos comércios e fabriquetas, muitos não legalizados. “Um prédio de escritórios traria impacto positivo para a região. Hoje há uma acomodação grande, as pessoas não investem”, opina ele, que mora no Mercês, rodeado por comércios.

Fonte: Gazeta do Povo