gustavobicicletaAo tomar posse como o novo prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT) admitiu ontem que a tarifa do transporte coletivo irá sofrer reajuste logo nos seus primeiros meses de mandato. Mas deu indicativos de que esse será seu primeiro enfrentamento com “interesses poderosos”. “Invariavelmente, haverá aumento da passagem de ônibus, mas não chegará a R$ 3,10”, assegurou. O valor de R$ 3,10 é defendido pelo Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), que afirma haver custos elevados para manter o sistema. Hoje a tarifa paga pelo usuário está em R$ 2,60

No último domingo o Setransp publicou um anúncio pago nos jornais da capital informando que, para cobrir os custos do sistema, a tarifa técnica (valor repassado às empresas de ônibus por passagem) teria de ser de R$ 3,10.

A nota do sindicato dizia ainda que o transporte coletivo de Curitiba passa por sua mais grave crise econômico-financeira e que o rombo nas contas das empresas é de dezenas de milhões de reais. “É sabido por todos que o FUC (Fundo de Urbanização de Curitiba) não consegue cobrir os altos custos do sistema. Custos estes oriundos de decisões equivocadas da Urbs”, afirma o texto elaborado pelas empresas de transporte. A nota foi interpretada como uma pressão por um reajuste maior da tarifa.

Durante a entrevista antes da posse, Fruet anunciou que uma comissão será formada pelo novo governo municipal para analisar o assunto, em parceria com o Ministério Público Estadual (MP). É esse grupo que vai definir o novo valor da tarifa. A ideia é analisar a planilha e verificar qual é o valor exato da tarifa técnica e quanto deverá ser o aumento para a população. “Vamos abrir as contas. Nossa meta é dar total clareza e transparência à questão da tarifa. É preciso parar de ficar falando em caixa-preta”, disse Fruet, repetindo expressão utilizada ainda na campanha eleitoral, de que o transporte coletivo é uma “bomba relógio”.

O pedetista, inclusive, elencou o transporte coletivo como um dos “interesses poderosos arraigados há muito tempo” na administração municipal que pretende enfrentar. “Não são resistências. São situações que estão acomodadas há muito tempo, são 24 anos de poder seguidos”, declarou. “A gente tem visto [isso] na questão de obras, de transporte e saúde. Não se trata de identificar adversário ou de caça às bruxas, é uma mudança de postura. Isso vai tirar a zona de conforto que muitos estavam.”

Por fim, o prefeito relatou que pretende oficializar ao governador Beto Richa (PSDB) um pedido para que seja mantido o subsídio do estado à tarifa. Um convênio firmado entre prefeitura e governo estadual no ano passado prevê o repasse de R$ 26,3 milhões até abril, a fim de cobrir o rombo nas contas do sistema.

Há algumas semanas Richa sinalizou que não deve conseguir manter 100% do subsídio. “O governador foi prefeito de Curitiba por seis anos. Com certeza, ele sempre se manterá sensível às demandas da cidade”, finalizou Fruet. Richa comentou ontem que deve sentar com o prefeito para discutir o assunto.

Colaborou Fabíula Wursmeister.

Na frente de petistas, prefeito cita o mensalão para defender transparência

Como deputado federal, Gustavo Fruet foi um dos expoentes na CPI que investigou o escândalo do mensalão no governo do ex-presidente Lula. Ontem, mesmo diante da vice-prefeita Miriam Gonçalves (PT) e outras lideranças petistas, o novo prefeito fez alusão, em seu discurso de posse, à condenação dos envolvidos no escândalo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – tema delicado para os petistas.

“Que ninguém ignore as recentes decisões do STF”, afirmou, como forma de defender “total transparência” na administração municipal. “Desmandos não serão tolerados”, acrescentou, cobrando dos secretários que, ao cometerem erros, sejam humildes e coloquem o cargo à disposição. No discurso que fez na prefeitura, Fruet chegou a citar o relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa.

Exceção

A direção do PT nacional chegou a emitir uma nota criticando a postura do Supremo ao condenar os envolvidos no mensalão, por considerar que o julgamento teve um “tratamento especial” devido à pressão popular e por ter sido realizado às vésperas das eleições municipais. Alguns petistas consideram ainda que houve um julgamento de exceção.

Fonte: Jornal Gazeta do Povo / foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo