depen prisão cadeiaPrincipal grupo criminoso do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) está se articulando no Paraná com a estrutura e o profissionalismo de uma empresa. Tal qual uma instituição formal, a facção faz fluxo de caixa, tem lista de cobrança e até recursos humanos (RH) para administrar a rede que avança dentro e fora dos presídios. A organização chega a estabelecer setores, cargos e funções específicas, conforme aponta documento da Agência de Inteligência da Polícia Civil (AIPC) .

Apontado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) como o segundo estado com mais integrantes do PCC, o Paraná corre para se antecipar às ações do grupo criminoso, em especial durante a Copa. Nos últimos meses, a AIPC fez uma apresentação interna, detalhando o organograma da facção. A polícia identificou departamentos responsáveis, por exemplo, pelo tráfico de drogas, pela assistência à família de presos e ações criminosas.

“Eles [o comando do PCC] encaixam os filiados de acordo com a natureza de cada atividade. O ‘cara’ que vai cobrar as dívidas ou fazer o ‘progresso’ [ações fora da prisão] tem perfil mais violento. Os líderes têm um perfil mais tranquilo, com uma visão global do crime”, disse um policial civil. A AIPC também decifrou códigos e outros subterfúgios usados pelos criminosos para contornar e confundir os policiais.

Estratégias
O documento evidencia que ataques como os que ocorreram em Santa Catarina no ano passado, ou em São Paulo em 2006, não são uma tendência atual da facção. O foco agora são atentados seletivos, ações de resgate e pressão sobre o sistema penitenciário. As investigações mostram ainda a estratégia do PCC de atuar em um campo formal, com a tentativa de eleger políticos, o lobby junto a outros já eleitos e trabalho com organizações não governamentais e escritórios de advocacia.

Apreensões recentes indicam que o setor de “recursos humanos” do PCC já cadastra filiados dentro de carceragens da Polícia Civil. Recentemente, “pipas” (tiras de papel, manuscritos) foram recolhidas em cadeias de Curitiba, com o registro de presos na facção. Já conhecido dos policiais, o RH do crime inclui livros de “batismo”, com nome, apelido e as últimas unidades prisionais em que o faccionado esteve. Há ainda o “livro negro”, uma lista de devedores.

A facção conta com os guias, responsáveis pelo “controle de passageiros, distribuir o dinheiro da ajuda aos familiares, transmitir salves que não devem ser passados por telefone, distribuição da droga para os ‘mulas’ no ônibus [que transporta familiares para as penitenciárias], contrata advogados em caso de problemas ou suspensão de visitas”.

Falhas inibem combate às ações da organização
Delegados, policiais civis e militares ouvidos pela Gazeta do Povo alertam sobre as falhas que dificultam a neutralização de eventuais ações coordenadas do PCC. Em geral, os agentes questionam a falta de preparação efetiva do Estado para lidar com a facção. “Se houver ações de dois, três criminosos, dá para antecipar. [Se tiver] muitos, não”, comentou um agente.

Na avaliação dos policiais, o investimento não tem correspondido à demanda e a polícia não consegue caminhar na mesma velocidade que o crime. “Precisamos de bloqueadores de celulares nos presídios, investimentos na inteligência e melhorar o isolamento e separação de integrantes de facções criminosas.”

Outro defende a concentração de esforços para bloquear a entrada de celulares. “Se tirar a comunicação dos presos, só vão ficar as pipas, bilhetes. Se não há telefone, não precisa interceptar, não tem salves. As pipas são lentas, não trafegam na mesma velocidade das informações por telefones”, argumenta.

“Se travar a comunicação, a organização acaba. Se eles começarem a usar programas, 3G, 4G, quem vai interceptar? Hoje só se monitora conversa de voz e se forem muitos usuários ao mesmo tempo?”

Crítica e resposta
A Secretaria de Estado da Justiça (Seju) rebateu críticas dos policiais que apontam a falta de entrosamento com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), além da falta de controle nas saídas dos presos do regime semiaberto. “Eles saem para roubar à noite e voltam antes da contagem de presos de manhã. Não há rigor no controle”, criticou um policial. A Seju diz haver integração entre os serviços de inteligência do estado, como da Seju, da Sesp e das polícias Civil, Militar e Federal.

A Seju diz fazer quatro contagens diárias dos presos do semiaberto, com leitura do código de barras da carteirinha do apenado. Ela reconhece possibilidades de fuga, mas atribui isso ao próprio regime.

Fonte: Gazeta do Povo