Deficiente visual desde o nascimento, o vendedor ambulante Antônio Marcos Pires Sousa, de 31 anos, acaba de prestar o exame de equivalência referente à primeira fase do Ensino Fundamental. A prova – aplicada na mesma semana em que ele procurou pessoalmente a Secretaria Municipal da Educação – foi respondida com a ajuda da professora Evanir Santana, do Departamento de Inclusão e Atendimento Educacional Especializado.

A conquista foi cerca de um mês depois de se mudar do município de Barra do Corda, no interior do Maranhão, para Curitiba. “Agora ele está apto para seguir os estudos. A determinação de Marcos é inspiradora para as pessoas com os diferentes tipos de deficiências que queiram voltar a estudar”, disse a diretora do departamento, Gislaine Budel, que acompanhou a avaliação.

Siomara Amorelli, experiente professora da Gerência de Educação de Jovens e Adultos (EJA), entregou a Marcos a declaração oficial de que está apto para garantir vaga na segunda etapa do Fundamental. O exame de equivalência é oferecido pela rede municipal de ensino a qualquer pessoa que não tenha a certificação de conclusão do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.

Além de datas fixas, o teste pode ser agendado e o estudante (a partir de 15 anos) pode fazer o exame na Secretaria da Educação.

Prova oral e em braile

No caso de Antônio Marcos, a prova objetiva foi respondida com a ajuda de Evanir – que leu as questões para o rapaz e transpôs as respostas para o papel. Quando a prova é marcada com antecedência, é possível solicitar a versão em braille, sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão para o candidato responder diretamente.

Já a redação foi elaborada com a ajuda de uma régua perfurada com a qual se marcam os pontos que formam cada letra do alfabeto usado pelos cegos (reglete). O instrumento é fixado nas laterais da prancheta onde é presa uma folha em branco. Quando precisa mudar de linha para continuar o texto, é só descer a reglete.

De volta aos estudos

A decisão de retornar aos estudos veio em dezembro, quando Sousa chegou de Barra do Corda. Seu objetivo era ficar perto da namorada, Valdeneia Roberto, também cega, que ele conheceu por meio das redes sociais. Bancária, a moça condicionou a continuidade do relacionamento à retomada dos estudos. “Eu sempre quis voltar a estudar e, agora, percebi que era mesmo a hora”, explica.

Marcos parou de estudar aos 23 anos, depois de quatro anos frequentando uma escola de educação especial da capital maranhense. Ele aprendeu a ler e a escrever em braille, com a ajuda de um professor que se dedicava exclusivamente a sua alfabetização, mas resolveu deixar a unidade por se sentir desconfortável com a presença de crianças que frequentavam a mesma sala de aula. Foi quando voltou para a cidade natal.

“Hoje vejo que perdi tempo. Já poderia ter superado tudo isso. Agora, vou por minha vida em ordem”, diz o vendedor, que faz planos para além do Ensino Fundamental. “Quero fazer faculdade de Comunicação”, revela Antônio Marcos, que planeja escolher em qual escola vai estudar na segunda etapa do Fundamental, nas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Em 2017, como Marcos, cerca de 100 pessoas – com ou sem nenhum tipo de deficiência – prestaram o exame de equivalência. No período, a Secretaria Municipal da Educação atendeu a 74 estudantes com problemas visuais severos em suas unidades próprias e 238 nas contratadas.

Fonte: PMC