Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O custo do sistema de transporte coletivo de Curitiba pode chegar a R$ 3 por passageiro. Uma projeção simples sobre a tabela de insumos mostra que a tarifa técnica deve chegar a R$ 2,99, um aumento de R$ 0,10 em relação ao valor atual – levando em conta apenas o reajuste do diesel, de 5,4% nas refinarias, e a correção mínima do salário dos trabalhadores, que deve ficar em torno de 6% de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O cálculo não leva em consideração elevações de outros custos, como pneus, nem de tributos, mas não fica longe da projeção feita pelo Sindicato das Empresas de Transporte Urbano e Metropolitano de Passageiros de Curitiba e Re­gião Metropolitana (Setransp) no ano passado, que indicava um custo mínimo de R$ 3,10.

Esse reajuste no custo do sistema pode aumentar o déficit da Urbanização de Curitiba (Urbs), caso a tarifa técnica continue superior ao valor cobrado dos usuários e não haja mais subsídios do governo estadual nem meios alternativos de arrecadar dinheiro com o sistema. Em 2012, o valor pago pelo usuário foi reajustado uma vez: passou de R$ 2,50 para R$ 2,60 em março. Em compensação, o valor da tarifa técnica – que representa o custo real do sistema – subiu três vezes: em março era de R$ 2,78, mas passou para R$ 2,87 em agosto, em um reajuste determinado pela Justiça, e fechou o ano em R$ 2,89.

A diferença entre as tarifas causou um rombo médio mensal que começou em R$ 4,5 milhões, em março, e terminou em R$ 6,8 milhões, em dezembro. Considerando que o sistema custe R$ 2,99 e a passagem cobrada do usuário permaneça em R$ 2,60, o déficit mensal pode chegar a R$ 9,2 milhões, em média, podendo chegar a R$ 110,4 milhões em um ano.

Decisão

O cenário deficitário das contas do sistema de transporte mostra que a Urbs precisará tomar uma decisão em relação a um possível aumento da passagem para o usuário. E isso mesmo sem saber se o subsídio do governo estadual será mantido após maio e sem receber qualquer pista sobre o andamento do projeto estadual que prevê a redução do ICMS do diesel, combustível usado na frota de ônibus. De acordo com o secretário estadual da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, o estudo elaborado pela pasta ainda não foi concluído e deve ser apresentado nos próximos meses.

Ainda pesa sobre o cálculo da tarifa a possível contratação de mais motoristas e cobradores, já que a lei que proíbe os condutores de lidarem também com o dinheiro da passagem entra em vigor em março. Com a norma que veta a dupla função, também será necessário readequar a frota de micro-ônibus, que não oferecem espaço para o cobrador. O Setransp questiona na Justiça a constitucionalidade da lei e seus efeitos ao sistema.

Recurso extra pode vir de publicidade

Dois fatores podem ajudar a equilibrar os aumentos no custo do sistema de transporte público da capital paranaense. Uma lei federal de setembro do ano passado altera a alíquota das contribuições previdenciárias sobre a folha de salários devidos para alguns setores, incluindo empresas de transporte coletivo, o que pode representar uma redução nos gastos com pessoal.

Além disso, o serviço de mídia embarcada deve começar a gerar recursos de publicidade em Curitiba. A expectativa da Urbs é de que até o fim de março 120 ônibus biarticulados e dois terminais de transporte, que ainda não foram escolhidos, recebam aparelhos de televisão para veiculação de notícias e informações de utilidade pública.

Pesquisa

60% dos curitibanos consideram cara a atual tarifa de ônibus

A maioria dos curitibanos (60%) considera alto o preço atual da passagem de ônibus – R$ 2,60. Por outro lado, 36% acham o valor justo. O resultado foi pior entre aqueles que não usam o sistema de ônibus: quase 63% consideram a tarifa cara, o que explica o afastamento desses usuários em potencial. Os números estão em um levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas, que entrevistou 430 pessoas entre os dias 23 e 25 de janeiro, para saber qual a percepção do curitibano em relação ao custo da tarifa.

Questionados sobre um eventual aumento no preço da tarifa, mais da metade dos entrevistados aposta em um preço superior a R$ 2,91, com palpites de custos ainda maiores que os R$ 3,10 anunciados pelas empresas de ônibus no ano passado. Atualmente, o valor da tarifa técnica é de R$ 2,89. Esse preço, que efetivamente já é o custo do sistema, é considerado injusto por 73% dos entrevistados, quando questionados sobre um eventual aumento do preço da passagem para R$ 2,90.

Os entrevistados ainda opinaram sobre o subsídio concedido pelo governo estadual, que ajudou a equilibrar as contas do sistema, mas deve acabar em maio. Para 86,3%, o estado deve manter o auxílio.

Fonte: Gazeta do Povo